Eles estão nos semáforos em quase todos os cruzamentos de pedestres em Berlim.

Andando em verde, paradinhos em vermelho, os Ampelmännchen são as luzinhas em formato de homenzinhos de chapéu que – quando acesas – dão a autorização pra você cruzar a rua ou não.

A verdade é que essas figuras fofas – conhecidas como Ampelmännchen – não se tratam de um capricho, mas de um plano bem pensado.

A história dos Ampelmännchen está intimamente ligada à divisão e à reunificação de Berlim.

Rebobina!

Em novembro de 1989 derrubava-se o Muro de Berlim. A imensa barreira de concreto ilhou a capitalista Berlim Ocidental no meio da Alemanha comunista (a RDA) por décadas. Sim, Berlim ficava dentro da República Democrática Alemã, o lado da Alemanha que seguia o regime comunista. E o Muro era o símbolo mais evidente e literal do que era a divisão do mundo naquela época em dois blocos: o comunista e o capitalista.

A queda daquela cortina de concreto representava um passo gigante para o fim da Guerra Fria e para reunificação de Berlim e das duas Alemanhas.

E os bonecos de trânsito que vemos hoje na Berlim unificada, ainda, têm participação especial nessa história.

O mobiliário urbano na Alemanha Oriental

Tudo começou  1961, quando o psicólogo Karl Peglau apresentou sugestões para novos símbolos de semáforo em Berlim Oriental. Sua invenção eram luzes de pedestres na forma de homenzinhos de chapéu, com nariz e até barriguinha proeminente. Nascia o Ampelmann. Ou os Ampelmännchen.

Como psicólogo, inventor engenhoso e estrategista inteligente, Karl sabia do efeito emocional que essas figuras provocariam.

É que estamos mais propensos a confiar em alguém que se parece conosco ou em quem gostamos.

Ou seja, carismáticas figuras realmente parecidas com a gente nos fariam prestar mais atenção nos sinais de trânsito. Muito melhor do que fariam os tradicionais e impessoais homenzinhos palito.

Então… a fofura dos Ampelmännchen não era capricho? Não. Era um plano bem pensado!

As sisudas autoridades da Alemanha Oriental gostaram da ideia e implantaram os sinais com o desenho de Karl.

Houve murmúrios de que o chapéu do Ampelmann fosse um agradinho às autoridades do regime comunista, uma vez que o acessório era bastante usado pelos representantes da Alemanha Oriental.

Será?

Ícones nostálgicos da Guerra Fria

Anos mais tarde, quando o Muro de Berlim já era só escombros, nasceu uma mentalidade coletiva de se livrar de um certo espírito retrógrado que acompanhava os símbolos do regime comunista.

Assim, veio a eliminação progressiva de várias referências à Alemanha Oriental. Mas já era tarde para eliminar os Ampelmännchen, que haviam cativado todos os lados do país. As pessoas agora gostavam dos homenzinhos do semáforo. E os Ampelmännchen tornaram-se figuras cultuadas.

As autoridades se renderam àquela figuras e viram nelas mais razões para perpetuá-las e apresentá-las ao Ocidente do que para destrui-las.

Teve até estudo acadêmico: uma pesquisa feita na Universidade Jacobs em Bremen (Alemanha) compara a eficácia visual dos sinais do Oriente e do Ocidente e registra que os Ampelmännchen não ocupam apenas seu lugar como um ícone nostálgico da Guerra Fria – ele realmente tem vantagem visual sobre os manjados sinais utilizados na Alemanha Ocidental.

Com a Alemanha reunificada e a eficácia dos Ampelmännchen comprovada, pareceu boa ideia instalá-los por toda a nova Berlim em vez da apagá-los.

Mais do que uma ação para a segurança no trânsito, acender os semáforos de toda Berlim com esses homenzinhos de luz foi um grande e inusitado passo para unir o que Guerra Fria havia separado.

Berlim Oriental: AmpelmannBerlin on Visualhunt.com / CC BY

 

 

A história de um símbolo nostálgico da Guerra Fria

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