Eu, caçador de mim

Eu e minha irmã Cris cantamos a canção Caçador de Mim, de Milton Nascimento, no palco de um Sesi nos final dos anos 80.

Eu tinha 12 anos, ela 16. Minha voz não é de cantora, mas quando se juntava à dela algo mágico acontecia.

Assim que entoamos a primeira frase –  “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim…” – a plateia começou a aplaudir. Cantamos até o fim.

Assim que entoamos a primeira frase –  “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim…” – a plateia começou a aplaudir. Cantamos até o fim.

Eu só sentia tudo com o coração e estava segura com ela do meu lado. Era para a Cris que eu olhava quando precisava saber como agir ou o que pensar quando comecei a deixar de ser menina-criança e precisava de referências. No meio da canção lembro-me de ter segurado a mão dela, que era delicada, e me sentir menos nervosa.

Nunca me senti nervosa em palco em frente ao público. Mas daquela vez  meu pai e minha mãe estavam na plateia.

Fui aprendendo essa canção aos poucos nos ensaios daquele ano, e não digo que foi sem sofrimento. Naquela idade de mudanças na vida de menina, eu já compreendia o que significa ser “caçador de mim”, ou como é “abrir o peito à força numa procura”. E já imaginava também o significado de “fugir às armadilhas da mata escura”.

Então eu cantei com verdade.

Quando a fita da gravação chegou, eu e minha irmã assistimos à apresentação um pouco envergonhadas, acho, com nossa aparência. Meninas tinham muito essa briga com a autoestima e com as tantas mudanças no rosto, no corpo, nos sentimentos.

Foi assim que, então, a Cris sumiu com a fita. Eu segui a orientação de deixar aquilo em segredo, né. Caçula fica quieta.

Desculpa, mãe. Nem você, nem ninguém vai ver a gente cantando Caçador de Mim.

Hoje, depois de terminar o trabalho, coloquei uma playlist para fazer o jantar com vibrações de serenidade e essa música estava lá.

Chorei. Eu estava cortando cebola para uma guacamole. Mas não foi culpa dela, não.

Chorei mesmo.

Eu choro pra caramba. Às vezes tenho até vergonha disso, mas é que sai água do meu rosto assim sem mais nem menos. E piora quando eu tento explicar.

Eu choro de feliz, de triste, de cansada, de fome, de raiva, de amor… Parece que tudo transborda de mim… Não acho que seja fraqueza.

Eu choro de feliz, de triste, de cansada, de fome, de raiva, de amor… Parece que tudo transborda de mim… Não acho que seja fraqueza. Pelo contrário. Meu irmão Marcelo é que fala assim quando me vê chorando: “ih, a lá a Ju”. Às vezes eu choro só pra relaxar. E aí equalizo as emoções.

Chorei porque hoje compreendi a canção ainda melhor.

Ouça Caçador de Mim clicando aqui.