Conhece aquela sensação de estar tudo bem e, de repente, a lembrança de ter se revelado demais invade sua mente e você, de vergonha, quer se enfiar debaixo das cobertas? Eu conheço.
Este livro (no foto) que eu folheio com as unhas azuis foi escrito por uma autora que admiro – Ana Holanda, de Como se encontrar na escrita. Eu chorei bem na frente dela no dia em que ela escreveu a dedicatória e me contou que me abriria uma porta por notar minha potência como pessoa que escreve. Depois, eu passei a noite me enfiando debaixo das cobertas por ter arrancado minha armadura naquela hora. Conhece aquele autoconstrangimento? É como vergonha alheia — mas como é da gente mesmo, a sensação fica um pouco pior.
Tenho passado minha vida toda remoendo as atitudes em que arranquei a tal armadura e fiz papel de amadora revelando de cara minhas pretensões, chorando rasgado a cada emoção, enfim, me permitindo ser vista. Nos últimos anos me revelei como se não houvesse amanhã. Logo, afoguei minha cara no travesseiro diversas vezes.
Talvez eu não seja tão banana
Até que tomei consciência de que talvez eu não seja tão banana quanto pensava. Descobri outro livro: A Coragem de Ser Imperfeito, de Brené Brown, uma doutora que defende que bananas como eu são… os verdadeiros ousados.
“Pessoas corajosas são aquelas dispostas a abandonar quem pensavam que deveriam ser a fim de ser quem elas realmente eram”, diz Brené Brown.
Um papo com Brené Brown
Dra. Brown trouxe luz aos dias em que, tomada pela certeza de que eu iria ao encontro do meu propósito, escrevi emails sinceros e expus minhas ideias tolas para as pessoas que me abririam caminhos. Ela deu um nome a esse tipo de atitude: a beleza da disponibilidade de se fazer algo quando não há garantias.
E mais: quando eu comecei a postar uns vídeos de cara lavada e nenhum preparo querendo explicar o que são viagens transformadoras, a Dra. Brown saiu-se com essa: “a vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo, mas parece que também é a origem da alegria, da criatividade, do pertencimento e do amor”.
Antes que o ano termine – e já tarde nessa vida – fui devorando as ideias de Brené Brown enquanto me lembrava das inúmeras vezes em que rompi protocolos para demonstrar sinceramente o quanto eu almejava determinada oportunidade. E o quanto o medo de ter parecido inadequada me assombrava em seguida.
Deixa pra lá!
E ela me lembrou de que, mais do que cismar com o espelho e com nossa suposta inadequação, talvez seja interessante ser simplesmente autêntico e real. Sim, deixar pra lá mesmo… Ligar na letra F, sabe como? E nos deixar ser vistos, vistos profundamente, amar com todo nosso coração mesmo que não haja garantias.
Brown sugeriu que paremos de catastrofizar ao assumir o amor por algo e comecemos a acreditar que somos suficientes para estar naquela situação.
Chegamos ao ponto de, em vez de respeitar e admirar a coragem e a ousadia que estão por trás da vulnerabilidade, abrimos espaço para medo, desconforto, julgamento e crítica.
Então, pra mim… Chega!
Deu tempo, antes do fim do ano, de assumir que minha entrega sincera – essa que me torna vulnerável aos olhos do mundo – também determina o alcance da minha coragem e da clareza do meu propósito.
Meu nome é Juliana Reis. E assim falei!
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Aquele “quê” da pessoa plena (segundo a Dra. Brown)
1. Cultiva a autenticidade; se liberta do que os outros pensam.
2. Cultiva a autocompaixão; se liberta do perfeccionismo.
3. Cultiva um espírito flexível; se liberta da monotonia e da impotência.
4. Cultiva gratidão e alegria; se liberta do sentimento de escassez e do medo do
desconhecido.
5. Cultiva intuição e fé; se liberta da necessidade de certezas.
6. Cultiva a criatividade; se liberta da comparação.
7. Cultiva o lazer e o descanso; se liberta da exaustão como símbolo de status e da
produtividade como fator de autoestima.
8. Cultiva a calma e a tranquilidade; se liberta da ansiedade como estilo de vida.
9. Cultiva tarefas relevantes; se liberta de dúvidas e suposições.
10. Cultiva risadas, música e dança; se liberta da indiferença e de “estar sempre no
controle”.